11 de mai. de 2009

REVISÃO DO CRISTIANISMO - J. Herculano Pires

Herculano Pires foi um escritor, filósofo e repórter espírita que nos deixou uma vasta e eclética obra, tendo sempre como recorrente o tema e a doutrina espírita. Comecei a ler o livro pelo interesse que o título me despertou, sem saber que se tratava de uma obra espírita, e acabei concluindo a leitura porque tenho consciência que até para criticar é necessário, primeiro, conhecer. Críticas vazias são aquelas que são feitas com base no depoimento de terceiros, que por sua vez se basearam em outros terceiros, e assim por diante. Vazias porque claramente são feitas com base em preconceitos: os cristãos oficiais, por exemplo, na sua grande maioria, criticam o espiritismo sem nunca sequer terem lido uma obra espírita – e isso é muito feio. O que aprendi com este livro, e que me deixou perplexo, é que os espíritas também se julgam seguidores do Cristo; acreditam que a Igreja Oficial (católica e protestante) se afastou imensamente da doutrina do Nazareno; e acreditam que o que fazem é apenas continuar a tradição profética e o culto pneumático que foi iniciado com os apóstolos de Cristo no dia de pentecostes. Eles defendem que não há razão para acreditar que a revelação profética tenha acabado – isso, na verdade foi uma jogada política do cristianismo do terceiro século que transferiu todo o poder para os "oficiais da igreja" (os sacerdotes) para que pudessem mais facilmente manipular as massas, fato este que sem dúvida se confirmou ao longo da história da igreja. Que coisa hein! Alan Kardec é um destes profetas, para o qual Deus revelou, dentre outras coisas, as distorções que a cristandade efetuou na pessoa de Jesus. "A mediunidade não é um resíduo mágico, mas a continuação esclarecida da tradição profética" (p.96).

No que se refere a principal crítica feita pela cristandade aos espíritas – a negação da divindade de Cristo – realmente corresponde a realidade. Mas o autor vai fundo ao responder: "Conferir a alguém a divindade na Terra é neutralizá-lo" (p.93). Ele defende que a própria doutrina da divindade de Cristo é uma perversão, pois acaba com toda a relevância do Jesus histórico para a humanidade. Se Jesus é Deus, ele não nos serve como parâmetro, não nos serve como exemplo.

Mais importante do que ressaltar aqui os pontos de discordância com o autor, ou com a doutrina espírita, julgo que é imprescindível destacar os pontos positivos da leitura da obra. Concordo com Emerson que revela o segredo de um verdadeiro pensador: "em todo homem existe algo que eu devo aprender, e neste particular eu sou seu discípulo". A partir das observações de Herculano vejo-me obrigado a reconhecer que algumas críticas acadêmicas e espíritas realizadas ao cristianismo oficial têm sim fundamentos, e o melhor caminho, eu diria, não é fechar os olhos. Além disso, percebo que existe um hiato imenso entre não concordar com alguns pressupostos espíritas e chamá-los de invocadores de demônios, ou coisa do gênero, como freqüentemente acontece no seio da chamada Igreja Oficial. Isso me parece ideológico demais. Político demais. Atribuir ao diabo uma prática que não concordamos não é algo novo. Faz-nos lembrar que até o próprio Jesus foi acusado pela religião oficial da sua época (pelos fariseus!) de invocador de demônios: "É em nome de Belzebu que ele expulsa os demônios". E este foi o único pecado para o qual Jesus atribuiu o adjetivo: "imperdoável".