8 de jan. de 2010

CRISTINISMO PURO E SIMPLES - C. S. Lewis


Eu sempre penso que um livro realmente bom é aquele que provoca em mim uma explosão de idéias de modo que eu tenho que ficar a rabiscar a todo momento as suas páginas com os pensamentos que vão me ocorrendo. Após ter lido Cristianismo Puro e Simples, de C. S. Lewis, isso não só aconteceu, como também passei a ter outro pensamento a respeito dos livros que realmente valem a pena serem lidos, mesmo que seja um pouco de pretensão da minha parte: um livro realmente bom é aquele que após tê-lo lido inevitavelmente penso “eu não faria melhor”. E não me refiro apenas ao momento presente, mas a toda a minha existência: “eu acredito que jamais seria capaz de fazer algo melhor que isso...”. Confesso que me senti assim a respeito de poucos livros na minha vida e esse sem dúvida foi um deles.

A habilidade extrema do autor com as palavras, o seu bom senso, a sua inteligência aguda, e principalmente a sua obstinação em entender racionalmente as coisas a sua volta, fez com que ele apresentasse as doutrinas básicas do cristianismo de uma forma sóbria e clara, sem subterfúgios, de forma a fazerem sentido, e não com obscurantismo ou apelos a uma fé cega e irracional como frequentemente acontece. E essa postura o levou, sobretudo, a criar imagens memoráveis – como dos soldadinhos de chumbo que não querem se transformar em gente – e frases inesquecíveis, como aquela que ele diz quando discorre sobre a importância da esperança cristã:

“Se você aspirar ao Céu, ganhará a Terra ‘de lambuja’; se aspirar à Terra, perderá ambos”.


A forma como ele esclareceu assuntos de grande complexidade com uma simplicidade singela chega a ser assombrosa.

Enfim, o grande mérito do livro, como ele mesmo defende na introdução, não é o de trazer novos conceitos, mas o de resgatar os antigos, de enxergar a profundidade escondida – ou perdida – nas coisas aparentemente simples, batidas, que todos acreditam que já entenderam por completo. E acredito que ele conseguiu fazer isso de forma magistral: nada novo, e ao mesmo tempo, tudo novo. Ele apresentou o cristianismo de uma forma poética, humilde, inteligente, racional, e nem por isso menos espiritual. É o que percebemos, por exemplo, no capítulo que ele trata sobre deixar ser “criaturas de Deus” para tornar-se “filhos de Deus”. Uma doutrina básica e corriqueira do cristianismo, mas que ele expressa de uma maneira absolutamente fantástica:


“Este mundo é como o ateliê de um grande escultor. Nós somos as estátuas, e corre por aí o boato de que alguns de nós, um dia, ganharão vida”.